GÓIS E SEUS POETAS
GÓIS E SEUS POETAS
COM 2000 ROSAS
NO ANIVERSÁRIO DE JESUS
ASSINALANDI I SEGUNDO
MILÉNIO, A PRENDA MELHOR
QUE JESUS QUER TER DO MUNDO
SÃOS ABRAÇOS DE AMOR
I
ÁLVARO DE PAULA DE NOGUEIRA
Inicio a 2ª Edição do livro "Góis e seus Poetas", recordando o hino do antigo e garboso Rancho Folclórico de Góis, que ainda hoje se canta comovidamente, como preito ao autor da letra e música do saudoso Goiense Eng.º Álvaro de Paula Dias Nogueira.
O Ceira corre
Muito mansinho
Pra nos ouvir
Devagarinho;
Passa debaixo da Ponte
Curvando a sua fronte
E ao Mondego irá contar
A ver sereias sem ser no mar.
O Ceira vai deslizando
E o rancho assim cantando:
Coro
Saudemos a nossa terra
Alegremente
Sempre dançando.
O nosso Rancho de Góis
Festivamente passa cantando
Pulsam nossos corações
De gente moça,
Botões em flor.
Saudemos a nossa terra
Com toda a força do nosso Amor.
.
Vamos prá festa
Lá pró Castelo
Que linda vista
Góis é tão belo.
Queremos ter o condão
De alegrar a multidão
As pandeiretas sempre a vibrar
Que ares tranquilos farão troar.
Rapazes e Raparigas
Cantemos nossas cantigas.
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Numa tarde de Domingo, em pleno mes de Agosto, apeteceu-me ir, mais a Judite Raquel, para os lados da Escarnida, de tão saudosas recordações. Andámos... andámos com o Piloto aos saltos e em permanente abanar de cauda!... e chegámos ao Pego Escuro, um local pitoresco muito sombreado de verdes e a confinar com o Rio, que bem merece ser acarinhado. Àquela hora somente ouvíamos o cantar melodioso dos passarinhos na ramada; a água em cascata a deslizar no açude, o murmurar do Ceira a embalar no leito dois barquinhos coloridos, remados por duas jovens. Observámos ainda algum que, por desporto, pescava no rio. Seria na procura das famosas trutas?
Havia um silêncio quase absoluto. Saboreando um pequeno lanche que levámos, inspirei-me em reminiscências de tempos idos e elaborei ali este simples poema:
Restos de um moinho antigo,
Junto a um velho carreiro,
Lembram a mina em perigo
E a morte do Jorge "moleiro"!
Era o tempo do minério,
Ia sendo um caso sério:
Numa tarde em sol poente,
Eu andava aqui no rio,
Quando o barco do meu tio,
Se revirou de repente...
Momentos depois eu e a Judite deixámos o Pego Escuro. Passando pela Boavista, que estava repleta de automóveis, fixamos os olhos na praia fluvial da Peneda, agora embelezada de maneira original e admirámos o intenso movimento dos banhistas, muitos deles a descansarem no extenso relvado e a saborearem no Parque, em redor de mesas de pedra, a sua merenda.O aprazível Bar de petiscos sobre o
Bar de petiscos sobre o rio, dos Irmãos Figueiredos estava também cheio até às beiras... É verdade que nestes últimos anos a nossa linda vila de Góis, com o Ceira límpido e sereno transpondo a velha Ponte, "ex.libris" da vila, tem sido palco de atracções e diversões para os numerosos turistas que nos visitam. Encantados, pensam sempre em voltar e trazer Amigos. Para as crianças, principalmente, o rio é um sonho que os seduz! Bem-haja. Sr. Presidente da Câmara, Dr. José de Ascensão Cabeças pelo seu requintado gosto.
Em frente à Igreja Matriz compus mais este poema:
A Igreja e Capela-mor
Tendo aos pés o Rio Ceira,
Abriga Nosso SENHOR
E D. Luís da Silveira
Que em Góis tinha moradia,
Palácio de fino traço
Desta nobre senhoria,
Resta só o nome – Paço!
Igreja Matriz de Góis,
Obra notável que encerra
Relíquias santas, heróis
E os velhos donos da terra.
Foi Guarda-mor de D. João Terceiro,
E Poeta distinto D. Luís.
Refere de Resende "O Cancioneiro",
Diz também o Dr. Padre Dinis
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II
D. LUÍS DA SILVEIRA
Seu Túmulo na Igreja Matriz de Góis
Segundo li no livro "D. Luís da Silveira, do Pe. Dr. António Dinis, o Conde da Silveira levou sempre uma vida faustosa e de certa ligação com a Corte. Conta-se que quando veio para Góis, em certo dia em que pescava à cana, um homem lhe perguntou se o peixe picava. Certamente, porque ainda nada tinha conseguido pescar, consta que lhe respondeu meio zangado:
- Homem eu perco tempo e não peixe...
Refere ainda o livro acima citado, que o Poeta D. Luís da Silveira "gostava de versejar nos serões para galanteio de damas e também num desejo de amostra de amor "cavalheiresco". Eis um pequenino trecho de um poema seu:
"Senhora, pois que folgais
Com meu mal, não me mateis,
Porque quanto alongais
Minha vida, tanto mais
Vossa vontade fareis."
Uma poesia mais de D. Luís da Silveira, que, conforme l, escreveu à beira do Rio Ceira. Desde sempre que o Rio, pelo seu encanto, inspira os poetas. Possivelmente começou por ser uma ribeira:
Ao longo desta ribeira
Vivo vida descansada
E a derradeira;
Esta é vida verdadeira
Para quem já não quer nada:
Não tenho já esperança
De Senhor ou de Senhora
Nem mais bem-aventurança
Que estão já delas fora...
........................................
Mais Poetas Silveiras houve então,
Na família do Conde da Sortelha.
D. Simão da Silveira, um seu irmão,
Que ao referido vate se assemelha.
O rico Mausoléu Renascentista,
Adornado das cenas da Paixão,
Dizem que a obra de excelente artista,
Ímpar, por certo, nesta região.
C.B.S.
ooooooooooooooooooooooooooooooo
III
ANTONIO FRANCISCO BARATA
E A BIBLIOTECA M. DE GÓIS EM SUA HONRA
Com o sol quase a esconder-se no horizonte, nos, que tínhamos delineado ir também nessa tarde ao Parque do Cerejal, que funciona como seja a sala de visitas da vila, com a bela praia de Santo António, decidimos adiar o passeio para outro dia, não sem antes recordar um ilustre Escritor Goiense - António Francisco Barata, autor de uma vastíssima obra literária que muita gente desconhece. Também eu só possuo a obra histórica "Um Duelo nas Sombras" e li um há muitos anos, um volume que tratava de memórias de Coimbra..
Foi também poeta de mérito, deixando um interessante poema "Lembrança da Pátria Góis, publicada a 1ª Edição em Évora em 1899 com o pseudónimo de "Bonifácio Tranca-Ratos". Este escritor nasceu em Góis em 1-1-1836. Viveu muitos anos em Évora, onde exerceu o cargo de Director da Biblioteca Municipal, desenvolveu estudos da sua actividade literária e morreu em 23-3-1910.
Acompanhando-nos hoje, neste passeio a Revista Cultural "Arganília" nº 6 e 7, consagrada a Poetas da Beira Serra, deparámos, com agradável surpresa, num poema de António Francisco Barata e dedicado a Góis. Dele extraí algumas quadras todas elas em versos hendecassilábicos (Arte Maior), muito perfeitos, que aqui deixo transcritas como saudosa lembrança de um trabalho interessante de um ilustre Goiense que tem o seu nome na rua da Igreja e vale a pena apreciar:
LEMBRANÇA DA PÁTRIA GÓIS
Cercada de montes da origem do mundo,
Na alfombra mimosa de verdes lençóis,
Nas margens de um rio, num leito profundo,
Formosa avistamos a vila de Góis.
É pois, circunscrito seu curto horizonte
De tão altas serras às sinuosidades,
Que por qualquer lado lhe ficam defronte,
Quais muros de bronze contra as tempestades.
Oblonga bacia de côncavo fundo
Em várzeas, lezírias, ficou sendo a terra:
Transborda-lhe o Ceira nateiro fecundo
Que em dons de Pomona mil frutos encerra.
Abundam-lhe as águas no rio, nas fontes,
Não só cristalinas, de grato sabor;
Frondoso arvoredo na encosta dos montes,
Lhe dá puros ares, suave frescor.
Nos meses óptimos de Julho e Agosto
Tem frutas mimosas, mui bem sazonadas;
Nos peixes do rio, delícias de gosto,
Tem trutas no ano das mais estimadas.
Precisos à vida lhe abundam agentes,
Não só humidade, mas luz e calor;
E, ou nela residam, ou vivam ausentes,
Dos filhos dispersos tem ela o amor.
Vestígios lhe sobram de antiga nobreza
Em Paços desertos, castelos feudais,
Em fontes, sepulcros de grande riqueza,
Igrejas e Pontes a até Hospitais.
Silveiras e Lemos, fidalgos diversos
A vila tivera como donatários;
Porém, hoje em dia, seus bens sãos dispersos
Por compras e vendas na posse de vários.
Coeva do reino já, pois, desde a infância,
Fidalga apresenta prístinos brasões,
Fidalgos seus filhos, da negra ignorância,
Libertos vão sendo por nobres acções.
E um deles obscuro, de origens plebeias,
Do povo, quais outros, saído, portanto,
Em frase rasteira, vazia de ideias,
De longe, bem longe, lhe tece este canto.
E diz, terminando: ó Pátria adorada,
Onde há doze lustros e mais que nasci;
Depois desta vida de si tão cansada,
Dá tu que eu desejo repousar em ti!
António Francisco Barata - escritor e poeta Goiense que temos de reestudar, como disse, e bem, o Professor João Alves das Neves, na Revista "Arganília".