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À BEIRA DO RIO CEIRA

Blogue iniciado pela autora, Clarisse Barata Sanches, a exímia poetisa de Góis, falecida a 25 de dezembro de 2018. Que permaneça intacto em sua homenagem.

À BEIRA DO RIO CEIRA

Blogue iniciado pela autora, Clarisse Barata Sanches, a exímia poetisa de Góis, falecida a 25 de dezembro de 2018. Que permaneça intacto em sua homenagem.

GÓIS E SEUS POETAS - 3ª PARTE

02.09.09, canticosdabeira

                         NA PRAIA DA BARRA DE AVEIRO

 

Foto velhinha tirada na praia da Barra de Aveiro em 14 de Setembro de 1949. Eu sou a mais alta… a criada é a de blusa branca e a minha prima está no lado direito. Isto passou-se, quando eu fui passar umas férias a sua casa em Trofa do Vouga – Águeda.

Depois de ter passado em nossa casa mais de 30 anos alternadamente, a minha prima faleceu em 17  de Outubro de 1989 em Góis, estando  sepultada em Jazigo de família em Trofa do Vouga. No meu livro Arca de lembranças tenho-lhe dedicado  um soneto de Saudade, com o ttitulo "Carta para o Céu".

 

 

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                                                           IX

 

                  MARIA TERESA TAVARES BARATA

 

  Prima directa de minha mãe, nasceu em Trofa do Vouga – Águeda, em 16 de Dezembro de 1910 e faleceu em 17 de Outubro de 1989 em minha casa, em Góis, onde viveu, repartidamente, mais de trinta anos, após a morte de seus pais.

 

   Seu pai, César Augusto Barata, irmão de minha avó materna, nasceu na Samoura – Góis

Após ter regressado ainda jovem do Brasil, para onde tinha emigrado com o seu pai, conheceu em Lisboa uma senhora do concelho de Águeda, de nome Elvira Tavares,  que acompanhava um tio Padre, com quem veio a casar.

 

   Este meu tio um grande Democrata e Republicano. Foi de pois Presidente da Câmara M. de Águeda desde 1914 a 1923, tendo deixado naquela região um nome ilustre e até homenageado. Com o nome de uma rua em Trofa do Vouga, onde fui também Presidente da Junta de Freguesia.

 

   Maria Teresa Tavares Barata cedo se iniciou nas lides literárias. Distinta prosadora, foi também uma boa poetisa, com quem ainda aprendi algo de válido. Interessava-se muito por estudos e narrações histórias, tendo escrito bastante em prosa e verso sobre o Panteão dos Lemos da Trofa e seus parentes Silveiras de Góis,

 

   Com 16 anos, apenas, escreveu uma curiosa novela “O Doutor da Quinta do Sobreiro”, (costumes da poética região do Vouga) e um pequeno livro dedicado ao Marquês de Pombal. Mais tarde em 197º e 1971 publicou dois romances: “ Maria da Glória” e “As Irmãs Lívia e Flora”, este, enredo passado no tempo dos primeiros cristãos. Para estes dois até arranjou  editor, que de vez em quando lhe mandava fundos.

 

Deixou minha prima imensos trabalhos em prosa e em verso, espalhados por muitos jornais e revistas do País, muitos deles com o pseudónimo de Maria da Cruz. Foi colaboradora assídua do antigo Diário “Novidades” e Independência de Águeda. E é deste jornal que vou deixar aqui reproduzidos dois trabalhos seus: Primeiro um soneto dedicado a Florence Nightingale, nascida em Florença – Itália em 1823, que em 1854 abalou com outras senhoras para a guerra da Crimeia, distinguindo-se como Educadora, Filantropa e médica muito solícita nos Hospitais militares Ingleses. Este Governo concedeu a Florence Nightingale em 1907 a Ordem de Mérito e o Município de Londres em 1908, nomeou-a “cidadã” honorária”. Finalmente: uma poesia dedicada a S. João de Deus.

 

 

       A FLORENCE NIGHTINGALE

 

Nascida em lar patrício e esplendoroso,

Quisera ser irmã dos que trabalham.

Dos que sofrem, que lutam, que batalham

E deste ao mundo um rasto luminoso.

 

 

O teu coração forte e generoso

Abriu-se de amarguras que retalham

O coração dos míseros que orvalham

De pranto o seu caminho tenebroso.

 

 

Tantas vidas salvaste, alta Senhora,

Doce enfermeira e egrégia lutadora,

Atenta ouvindo a voz da divindade.

 

Santa virtude foi a toa glória,

 Gravaste sobre as páginas da História

Uma palavra de ouro: - HUMANIDADE!

 

 

S.  JOÃO DE DEUS – SANTO PORTUGUÊS

 

Há graça e luz em Montemor-o-Velho,

Ninguém e já repicam sinos!...

- João é pobrezinho – diz i povo

Que terá ele a mais que outros meninos?

 

Será i aventureiro ta maninho,

Que a Espanha vai ali se faz pastor,

Cresce, leal, valente e um grande Amor

Quer florir-lhe de rosas o caminho.

 

A filha do feitor, de olhos de mel,

De terno e generoso coração,

Amava esse pastor, como Raquel

Amou outrora o neto de Abraão.

 

Dava-lhe o pai risonho e satisfeito;

João recusa aquele Amor profundo.

E nem sabe que sonho traz no peito,

Nem que o seu nome brilhará no mundo!

 

Português, segue a rota da aventura,

Batalhador da Espanha armipotente,

Paladino da Cruz ante o Crescente,

Põe ambas sobre e luta com bravura.

 

Serve de graça a casa desditosa

De gente Portuguesa degradada,

Dá-lhe o labor e a estima respeitosa;

Depois vende livrinhos pela estrada.

 

Um dia ao meditar no seu Senhor,

Pensa – Morreu por nós, e eu fiz tão pouco!

Roja a fronte no pó, chamam-lhe louco,

Tal como Herodes fez ao Redentor.

 

Surgiu então no Hospitaleiro Santo,

Doce raio de luz que o Céu mandou;

Da caridade o imaculado manto

Sobre toda a miséria desdobrou.

 

Campeador augusto em santa lida,

Para salvar da morte o seu irmão,

Do peito arrancaria o coração,

E daria a sorrir a própria vida!

 

Chora por ele a Espanha desolada,

Que outro João de Deus não voltará.

Levam-no Anjos, ninguém perguntará

Quem foi dobrar os sinos de Granada…

 

 Maria Teresa Tavares Barata, de raiz Goiense, não nasceu aqui, como já referi, mas viveu em Góis metade da sua vida, um tanto triste. Seu corpo permanece guardado em jazigo de família, em Trofa do Vouga – Águeda.

Possuindo uma alma virtuosa, lutou sempre com a sua pena de ouro para salientar, no papel o sentimento da Dignidade, da Moral e da Fé, com que ornamentava todos os seus escritos. Provam-no as transcrições de interessantes artigos que escreveu e foram sendo rememorados no jornal “O Varzeense”, com o pseudónimo de Maria da Cruz.

 

… Devia este pequenino preito a minha prima Maria Teresa, que aqui deixo impresso com a mais profunda Admiração e Saudade. C.B.S.

 

 oooooooooooooooooooooooooooooooooooo

 

 

                                                          X

 

             JOSÉ FERNANDES DE ALMEIDA

 

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                                                  ÁDELA- COLMEAL - GÓIS 

 

(Da Internet

     Bem-vindo ao site da Comissão de Melhoramentos de Ádela: Ele foi elaborado para dar a conhecer a nossa terra que é uma aldeia da Beira Interior, situada nos contrafortes da serra do Açor, na freguesia do Colmeal, concelho de Góis.

 

Visite-a e desfrute de belas paisagens, de um ambiente de paz, tranquilidade, ar puro da serra e águas cristalinas, onde os únicos ruídos são o gorjear dos passarinhos e o “cantar” dos ribeiros!!!

Esqueça o stresse citadino e venha relaxar em harmonia com a Natureza.)

 

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José Fernandes de Almeida nasceu em Lisboa em 1943. Mas é oriundo de Ádela – Colmeal, onde nasceram os seus pais e aldeia onde viveu desde um ano, até aos catorze de idade.

 

Segundo informações recolhidas pelo articulista e pintor Fernando Costa, do Colmeal, que o descobriu Através do Jornal de Arganil. José Fernandes de Almeida, hoje com 67 anos, iniciou a sua carreira em Artes Gráficas, como tipógrafo em Lisboa, Tem o curso liceal e frequentou a Universidade Clássica – Faculdade de Psicologia.

 

No jornal “O Varzeense de Abril de 1999 e por meio de um artigo de Fernando Costa, tomei conhecimento de alguns poemas do poeta José Fernandes de Almeida e que publicara um livro em 1983, com o título “METAMARFOSE” desespero… Poesia, Esperança! Daí o meu desejo de ler mais algumas poesias suas.

Por acaso, muito recentemente na Imprensa Regional, tenho apreciado diversos trabalhos seus interessantes, tanto em verso, como em prosa.

 

Assim, a sua inspirada Obra “metamorfose” decidi incluir no meu livro dois curiosos poemas que me prenderam também a atenção e os leitores poderão gostar destas coisas puras de sabor a serra.

 

            QUANDO EU MORRER

 

Quando os meus olhos deixarem de ver

Quando o meu coração deixar de bater

Quando o meu sangue não mais circular

Quando o meu corpo hirto, gelar…

Não quero jazigo para a posteridade,

Não quero discursos à minha Saudade,

Não quero lamentos à minha partida

Não quero lágrima mesmo sentida

… Sepultai-me longe da cidade que me viu nascer

Sepultai-me na aldeia que me viu crescer

Quero campa rasa entre o sol amado

Quero sentir a aragem do vento sonhado

Quero ouvir os pássaros a cantar amor

Quero, enfim, repousado esquecido da dor

Escrevam numa tábua que no solo se enterra:

“Aqui dorme o poeta que ama a serra”.

 

 

   ARTE, SERVIDÃO E LUTA

 

Lembro saudosa avó o teu tear

Vosso labor em plena comunhão

Desse arcaísmo, a mestria e perfeição

Nasciam ante o meu espanto e puro olhar!

 

Alta arte dominava a ardidura;

Girando, sem cessar, a lançadeira

Ordenava à canela a sementeira

De ledos fios pejando a cobertura.

 

Ah! Pudesse eu cantar a vossa história

Velho tear, desprezado tecelão,

Colher do tempo anéis da servidão

Soterrados com lança da memória!...

 

Teria de saudar génio inventor

Que de vós fez espada do progresso,

Tendo ao linho e á lã largo acesso

Se permitiu à nudez dar cobertor.

 

Teria de focar reis que ornamentaste,

Meus Senhores feudais que vos vergaram,

Vãos mercadores que vos enganaram,

Revolução industrial porque passaste.

 

Não esquecendo o luxo – a burguesia –

Desfilando em salões que revestiste

Com vosso suor, cansaço e rosto triste

Banhados em pobreza e heresia.

 

O autor inicia o livro assim: cantei com Camões, Antero, Cesário, Pessoa, Sá Carneiro, Florbela… cantei com os mestres nos livros dos mestres cantaram em mim, rasgando ainda mais o meu já profundo desfiladeiro sentimental… Cantámos o Campo, a Cidade, o Mar; cantámos o Homem, o Amor, a Angústia, a ténue Esperança… Cantámos, em suma, a Terra e o seu recheio exterior.

O Campo amarelou, a cidade sufocou, o mar poluiu; Homem esterilizou, o Amor adulterou, a Angústia, a Esperança morreu; a Terra com seu recheio voga mofosamente!

 

Actualizando, deixo aqui dois textos interessantes, recentes, que o Amigo e prezado poeta Sr. José Fernandes de Almeida me enviou. E ainda umas palavras bonitas que teve a gentileza de me dedicar.

 

                           NINGUÉM SE SALVA SOZINHO

 

AMAR O Próximo é muito difícil, mas imperioso:

Pedimos a Deus pelos presos, pelos doentes, Graças pelas famílias desunidas, pelos traumatizados. Pelos escravos das paixões que enlaçam e aniquilam, pelos governantes de todo o Globo, pelos desesperados, pelos que têm tendência para o suicídio, pelos tristes solitários, por aqueles que não acreditam na Vida após a morte, pelo vagabundos que têm os passeios por residência fria, pelos fazedores de guerras, pelos matadores do próximo, pelos agressivos que batem no semelhante, pelos ladrões, pelos pedófilos, pelos traiçoeiros, pelos falsificadores, pelos enganadores, pelos homens e pelas mulheres que se vendem sexualmente, pelos seus compradores, pelos que reencarnaram sem voz ou fala, sem ouvido, sem visão, sem capacidades de locomoção físicas, pelos “tolos, pelos que têm variadas “anomalias” e ou espirituais, enfim, enfim, enfim!...

Uma oração a Deus por todos os seus filhos encarnados e desencadernados!

Na óptica Reencarnatória, cada um tem o que merece! Mas ai daqueles que não ajudarem o Próximo!

Rumo ao Criador, ninguém se salva sozinho!

 

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                 CEM ANOS DE REPÚBLICA

 

Eu fui Monárquico! Eu sou Republicano! O meu País é Portugal, a sempre e bela Lusitânia! Cosmopolita, o meu País é o Mundo todo!

Tenho sangue cruzado entre muitos POVOS que Lavraram esta cabeça atlântica! Da Europa! E tenho muito gosto e prazer de ser um filho desse cruzamento sanguíneo e físico e até Espiritual!

Como Monárquico, vi a minha Pátria criar o seu e meu intrínseco e Amado Rectângulo: vi – a  partir em caravelas e a abraçar todos os continentes e todos os povos da Terra!

Como Republicano, continuo a ter e -a sentir, face à Pátria, os mesmos sentimentos!

“Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”, mas o meu Amor por este Rectângulo não muda!

Cem anos de República! Valeu a pena a Mudança? Quase sempre a mudança é Crescimento! Mas as grandes Transições doem muito!

As ditaduras de alguns Reis de anteontem, talvez pertinentes na ocasião, já não poderiam ter verdura nos dias de hoje!

Em princípio, a República anda de braço-dado com a Democracia, melhor dizendo, objectiva – a! Mas, infelizmente no terreno revela muitos defeitos! A Democracia que, em certa medida, tenta aglutinar várias correntes políticas, ainda é, no meu entender, o melhor sistema da Terra!

No nosso Globo, evoluímos muito a nível científico. Mas a nível moral, religioso e social pouco avançámos em relações dos nossos irmãos das cavernas!

Reconhecendo que a Implantação da República foi um Avanço. Gritemos! Viva a República!

Eu fui Monárquico! Hoje sou Republicano!

- Amanhã, virá um Regime melhor”

 

José Fernandes

 

Eis as simpáticas palavrinhas, de que falo em cima:

 

Lisboa 15 de Nov. de 2010

D. Clarisse

Os meus melhorem cumprimentos!

Muito obrigada por se lembrar de mim!

 

A Senhora é uma pessoa de “fibra” que muito honra as nossas Beiras!

 

José Fernandes

……………………………………………………………………

 

Aqui fica à apreciação dos leitores um pouco do sentir deste inspirado poeta sentimentalista que parece até revolto e angustiado da vida, oriundo da serra e mais concretamente de Ádela – Colmeal.

 

Muito obrigada Senhor José Fernandes. C.B.S.