FÉRIAS NA ALDEIA
MURMÚRIOS DO CEIRA
XIV
FÉRIAS NA ALDEIA
A boa educação faz os homens grandes e úteis à sociedade. C.B.S.
O Pedro e o Joana eram dois irmãos jovens, muito simpáticos, instruídos e inteligentes. O Pedro tinha 20 anos de idade e frequentava a Universidade Católica de Lisboa. A Joana com dezoito, terminado o 12º ano com elevada classificação, tendo aspirações de vir a ser uma boa Assistente Social, ou então Enfermeira. Ambos gostavam mais do campo, do que da praia, motivo porque os seus pais, de origem humilde e lavradora, aplaudiram a ideia de virem passar um tempo de Verão na Aldeia do Nogueiral, em casa dos seus avós maternos.
Quando chegaram em meados de Agosto, foi uma alegria para os avós que não tiravam os olhos dos netos, a sorrirem-se. Os pais vieram trazê-los no seu automóvel carregado de mantimentos, incluindo uma boa Televisão, como prenda para os avós.
A Joana, apenas, entrou na casa, disse à avó:
- Durante o tempo que cá estivermos, vou fazer de dona de casa. Embora a mãe já me tivesse ensinado alguma coisa, preciso de praticar mais nos serviços domésticos, pelo que a avó vai só limitar-se a dar ordens e auxiliar-me naquilo que me vir atrapalhada.
O Pedro, imediatamente, se propôs a ajudar também o avô nas tarefas do campo. Principiava o mês de Setembro, as colheitas e vindimas estavam no auge. Os dois irmãos, muito entusiasmados, escreviam e contactavam frequentemente pelo telefone com os pais, contando que estavam a gozar umas ricas férias, porque a companhia dos avós, o ambiente e as tarefas do campo os apaixonavam muito.
De quando em vez, costumava ir o Pedro com o avô para o cimo da colina, onde se desfrutava um bonito panorama de floresta verde e ali contemplavam a Natureza que Deus havia preparado com tanta ciência e encanto! Era um regalo repousar à sombra dos castanheiros, ouvindo o alegre cantar dos rouxinóis e o doce gemido das rolas, que voavam de ramo em ramo e faziam os ninhos, com arte e perfeição, nos troncos dos pinheiros e sobreiros.
A Joana que ia sempre à horta com a avó colher os legumes para as refeições, – dizia – muito ansiosa:
- Ah, se eu pudesse vivia sempre na aldeia e no campo. Como é lindo e salutar viver rodeada de tons verdes, flores e passarinhos! Aqui não existe poluição alguma. O ar, em contacto com a Natureza, é tão puro que se goza na aldeia de muito mais saúde.
Numa linda manhã, estava o Pedro e o avô no monte, e, de repente, viram ao longe e perto de um caminho, deflagrar uma pequena chama de lume. O rapaz logo se pôs a correr pela serra fora, na mira, rápida, de ir apagar o foco de incêndio, que despertava já com labaredas, afim de dizimar o maior bem daquela terra: - a floresta!
Ao chegar lá, cortou ramos de árvores e com eles conseguiu extinguir as chamas do mato que já alastravam uns trinta metros quadrados. Soube-se depois, que estivera ali um grupo de pessoas que vinham de automóvel e estacionaram para admirar o aprazível local.
Presumiu-se que, inadvertidamente, tivessem deitado para o mato seco, alguma ponta de cigarro. E se não fora a decisão instantânea e corajosa do Pedro, o incêndio tomaria séria proporções e, por consequência disso, prejuízos incalculáveis. Há quem diga, mas estranho, que o Sol, em altas temperaturas, também provoca chama, mas este caso sucedeu numa manhã, em que o Astro-rei ainda não estava na sua pujança.
Quando o Pedro regressou para junto do avô muito cansado, não se conteve sem que fizesse estes comentários.
-Há gente, meu avô, que nunca deveria colocar os pés nas serranias das matas, que são a maior riqueza do País. Uns por dureza do coração e outros por descuido imperdoável, assim vão dando cabo do maior bem natural que Deus colocou na terra para comodidade e proveito do homem. Apesar do quente Verão tornar a vegetação murcha e ressequida, o fogo, que deflagra de noite, não se acende sem mão… Muitas vezes eles são postos por pessoas de atraso mental, motivo por que à sua volta, deverá haver uma rigorosa vigilância durante os três meses de maior risco. Tenho muita pena dos Bombeiros Voluntários, que expõem a sua vida, ante o perigo, e ficam exaustos no tempo dos fogos.
Se eu dirigisse a Nação, sabe o que faria?
- O que farias, diz, lá?
- Depois de intensificar uma melhor prevenção nas matas e ordenar como já foi lembrado, e que parece estar a resultar, que não fossem atirados foguetes nas festas de Verão, poria os jovens deste país, nos tempos livres e de férias, a limpar o mato das florestas e as silvas dos campos. Claro que os proprietários teriam que recompensar, mas penso que até ficariam agradecidos, uma vez que lhes é muito difícil encontrarem quem lhes faça este trabalho. Nesse campo também os militares poderiam dar o seu contributo que, ao fim e ao cabo, era a bem do engrandecimento da Nação. Não é só com pistolas na mão que se defende uma Pátria.
- Ainda bem que já não se ouvem tanto os foguetes, as estoirar.
- Sabes, Pedro, antigamente as terras com pinheiros e sobreiros não estavam tão cobertos de mato e silvedos como hoje. Os agricultores que viviam nas vilas e aldeias, muito jovens, até, roçavam-no para cama dos animais que, depois de curtido, servia de estrume nas terras, muito melhor que os adubos químicos, que até matam a gente… Porque será que há agora tanta gente a morrer de cancro? – Efectivamente avô, dá para pensar…
- Agora. não há quem pegue numa reçadoira ou numa enxada para roçar um bocadinho de mato! Ali, para os lados da Boiça, o mato e silvas estão da minha altura!... Nem o caminho se enxerga, Os pequenos proprietários, como eu, já não podem e, como já disse, não conseguem ninguém “desempregado” que se disponha a realizar este serviço, As aldeias estão cada vez mais tristes e despovoadas. Uns velhotes, por aqui e ali, e nada mais.
Há dias, resolvi ir ver como estava a minha fazenda da Costeira, que dantes dava um moinho de azeite. Nem queiras saber… Andei por lá perdido no meio das silvas, sem quase distinguir onde se situava a minha propriedade… Parece incrível, mas é verdade!
Segundo li há dias no jornal “O Amigo do Povo”, metade do azeite que consome em Portugal é já importado e sobretudo de Espanha, onde se cuida com desvelo, ao contrário de nós, para ter bons olivais.
O ano passado fui mais a tua avó, numa excursão, à Espanha e ficamos admirados como eles lá têm os terrenos amanhados, a respirarem verdura por todo o lado e com bonitos laranjais.
- Já se fala, avó, no Turismo Rural, poderá ser que com o tempo, as coisas mudem para melhor…Mas eu também vejo que os nossos governantes ligam muito pouco à nossa agricultura. 80% dos comestíveis vêm do estrangeiro. Parece que os subsídios legais, não chegam bem à mão dos camponeses.
- Sabes, Pedro, a vida do camponês é um bocadinho dura e, por vezes, faz artroses nas articulações… Que o diga eu, que ando bem mal dos joelhos.
- Antes de me ir embora para Lisboa, ainda hei-de ver se lhe corto algumas silvas que estão junto ao muro e perto de casa. Porque não as extermina com pesticidas?
- Já dizimei algumas, mas elas eram tantas!
-Sabe, temos que ir embora, que a Joana já deve ter o almoço preparado e a avó pode estar preocupada com a nossa demora.
Aproveitamos o ensejo para esclarecer que a irmã do Pedro, a Joana, tinha um comportamento impecável, pois além de ser uma moça encantadora, simples e despretensiosa, possuía um coração de ouro. Nas horas livres visitava, no Centro de Dia, os velhinhos e doentes, fazia-lhes carícias e ajudava-os nas suas necessidades mais prementes.
Cuidava com muito zelo do jardim dos avós, para que na Capelinha da aldeia não faltassem as flores da época a enfeitar nos altares que ela, ao sábado decorava com prazer e gosto perfeito.
As férias estavam a terminar e já todos lamentavam a partida destes jovens tão simpáticos e prestimosos para com os idosos que, quase só eles, povoavam aquela linda terra do Nogueiral.
O Pedro e a Joana foram um bocadinho de Sol que ali entrou e iluminou de graça o povoado. Para que não ficassem tão tristes, eles prometeram voltar numas próximas férias, Também eles levavam saudades da aldeia e da boa e humilde gente que a habitava.
Enquanto alguns colegas descasavam nas praias e se divertiam nas discotecas, eles, duma maneira bastante positiva e interessante, davam o seu testemunho de verdadeiros jovens, sem vícios, homens íntegros de amanhã.
Louvores merecem as famílias que sabem criar e educar os filhos desta maneira!
Assim se contribui para a construção da Paz e do Amor, e até para o franco desenvolvimento de um povo. Pois é com filhos deste quilate, que a Pátria se engrandece!