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À BEIRA DO RIO CEIRA

Blogue iniciado pela autora, Clarisse Barata Sanches, a exímia poetisa de Góis, falecida a 25 de dezembro de 2018. Que permaneça intacto em sua homenagem.

À BEIRA DO RIO CEIRA

Blogue iniciado pela autora, Clarisse Barata Sanches, a exímia poetisa de Góis, falecida a 25 de dezembro de 2018. Que permaneça intacto em sua homenagem.

GRACITA FLOR DA SAUDADE / SONETOS - II

09.01.10, canticosdabeira

II PARTE

 

 

                                     

                                                                                                      

 

                                                     OS SONETOS, GRAÇA BELA, 

 

                                                     QUE ESTA MINHA ALMA DITARAM 

 

                                                     SÃO HOMENAGEM SINGELA 

 

                                                     DE UNS OLHOS QUE TE CHORARAM

                            

 

                                            Com a mais profunda Saudade da tia e madrinha Clarisse

  

                          Bem - aventurados os que choram, porque eles serão consolados. S. Mateus - Cap. 54

 

 

 

 

 

 

 

 

ETERNA SAUDADE 

 

 

...Tinhas a Graça em tudo, meu amor,

Na voz e na singela compostura.

A graça no teu nome encantador

E nesse meigo olhar, muita doçura!

 

A c´roa do martírio, jovem pura,

Já a levaste a Deus, Nosso Senhor,

Porque se vive em mundo de amargura,

Onde só há tristeza e desamor.

 

Quando te foste cheia de alegria

Para compor o braço, nesse dia,

Morreriam teus sonhos de donzela!

 

Por te não ver, perdi o gosto à vida,

E as saudades são tantas, minha qu'rida,

Que te mando  beijinhos da janela!

 

Góis, 26-2-1984 – C.B.S.

 

   

 

ROSA BRANCA 

  

Minha querida Graça, quem diria 

Que ias para "Santa  Filomena", 

Confiante e jubilosa em alegria 

Para compor o braço em triste pena.

 

Após o acto, nessa tarde amena, 

O médico a mãe sossegaria; 

Mas na sala viveu-se estranha cena, 

Porque não cessa o mal da anestesia. 

 

Foste mártir três meses. Que tormento! 

Num Inverno de chuvas e de vento, 

Em que lágrimas trágicas vertemos. 

 

Que Deus nos dê conforto e a ti o Céu 

E faça ver bem claro, o que te deu... 

Com esta rosa branca que perdemos. 

  

4 /3/1985 - C.B.S.

 

              

 

GRACITA: O SOL DO NOSSO LAR

 

 

- Desde oito de Novembro que não sei

O que  é sentir a paz no coração.

Em oito de Fevereiro te beijei,

No mais sentido Adeus e provação!

 

Morrer é para todos uma lei,

Mas se algo falhou na operação,

E nos tirou um Anjo que estimei,

Como se pode ter conformação?!

 

Vinte e três anos belos e risonhos,

Em que ruiram tão cândidos sonhos,

E se foram em voos de andorinha!

 

Gracita, eras o sol do nosso lar,

Se na Terra deixaste de brilhar,

No Céu, agora, há mais uma santinha!

 

8/03/1985 - C.B.S.

 

15

 

ÚLTIMO ADEUS

 

-Jamais posso olvidar a despedida

Que nesse dia cinco nos fizeste

Tão cheia de esperanças e de vida

E o derradeiro beijo que me deste.

 

 

Confiaste na ciência, minha qu'rida,

E no ortopedista que escolheste

Para compor o braço nesse dia,

Em que os mais puros sonhos desfizeste!

 

 

Se bem que muitas preces e novenas,

Deus preferiu levar-te para os Céus,

Que ficares por cá em vivas penas.

 

 

Vinte e três anos só! Nos olhos meus

Há um pranto de Santas Madalenas

A lembrar sempre o último Adeus!

 

Março de 1985 - C.B.S.

 

Nota: Não foi este o último Adeus! Na madrugada de 30 de Maio estava orando e adormeci, por um instante. Recebi, então, dois ternos beijos teus. Que sonho maravilhoso veio até mim por vontade divina.

 

 

 

 

 

16 

 

O TEU RETRATO

 

- Todos os dias minha Graça qu'rida,

O teu retrato gosto de beijar:

Aquele onde estás triste e parecida,

E me deste uma vez para guardar.

 

Olho p'ra ele e fico a meditar:

Bébé um dia, agora mais crescida,

Rodeada de carinhos no teu lar,

Porque foi para ti tão curta a vida?

  

Se dos médicos fosses filha amada,

Haveria mais zelo e atenção,

Nem era uma família desolada!

 

Assim, "simples" que foi a operação,

Fizeram dela, certo, uma jogada...

Tal como a Lucindinha lá de Olhão.

 

 

 

OS OLHOS MEUS

 

- Gracita, meu amor, minha esperança!

quisera ter mais olhos p'ra chorar,

Se neles vive a mais doce lembrança,

E jamais servem para te mirar!

 

Se às vezes faço o meu pranto estancar,

E a lágrima no rosto me não dança,

É para avó eu não martirizar

Na sua vista que lhe dói e cansa.

 

Meus olhos que brilharam de alegria

Ao verem sempre a luz do Céu nos teus,

Hoje ardem-me de dor e nostalgia.

 

Assim, penosos estes olhos meus,

Não mais reflectirão um claro dia,

Enquanto te não ver junto de Deus!

18 C.B.S.

 

 

 

ALGUÉM BATEU: ERA A DESGRAÇA 

 

                                                                                                                                                            

Em sete de Novembro, alguém bateu 

De rijo à nossa porta. Era a desgraça! 

O Céu estava lindo, escureceu... 

E uma nuvem escura nos abraça... 

 

Essa intervenção "simples" decorreu, 

E deixa em se mi coma a nossa Graça. 

Recorremos a Deus, no alto céu,

Mas o mal implacável, não lhe passa.

 

Com noventa e três dias a sofrer,

Sem nos poder falar e até ver,

Chamavam-lhe a "Santinha" lá em Celas.

  

O Senhor dia 8 de Fevereiro,

Mandou um Anjo seu, de jardineiro,

Colher  para si rosa das mais belas.

  

C.B.S.

 

19

 

ATÉ AS PEDRAS CHORARAM

 

 

Góis inteiro chorou sentidamente

E também as pedrinhas da calçada,

Por onde ela passava sorridente,

Deixando toda a rua perfumada...

  

Da Vila ao Pé Salgado, pela estrada,

Deslizava qual luz resplandecente,

Magnética, afectiva e enlevada,

Logo ao romper do dia e ao sol poente.

 

 Lastimam-se as pedrinhas a dizer:

 Que é feito duma estrela que passava  

Em refulgente imagem de mulher?

 

- Gracinha está no Céu, aonde encanta;

Quando ela para vós já declinava

O seu olhar tão meigo, era de santa!

 

  C.B.S.

                                                                                                      

 

 

 

 

A MINHA VIDA POR TI

 

Há já sessenta dias que partiste

Dum mundo de ilusão e dor pungente!

Deixaste-nos, Gracita, muito triste

E a chorar, por ti, saudosamente.

 

Naquele dia que te despediste

De mim, da avó, da prima, tão contente!

Quem pensaria, flor, que nos fugiste

E não voltavas mais a ver a gente!

                                                                                                                                                                               Quando te soube mal, eu ofereci

De olhos no Céu a vida, então, por ti,

Mas Deus não aceitou proposta                                                                                                                        

 

Ninguém sabe os desígnios do Senhor,

Mas, se te preferiu,,oh meu Amor,

É porque chama antes quem mais gosta

 

 

 

CARTA PARA TI

 

Gracita! Meu Amor! Minha andorinha!!

A virtude que sempre cultivaste

Ficou perpetuada, oh, pomba minha,

No coração de todos que estimaste!

 

Na hora em que te escrevo esta cartinha,

Omporta-me saber, se bem chegaste

À morada Celeste, tão novinha

Com o vesrido branco que levaste!

 

Segundo o Evangelho, estarás bem

E os Anjos deram vivas no além,

Com cânticos de alegre saudação!

 

Alma gentil, espelhp de água pura,

Recebe um beijo cheio de ternura

E pede para nós resignação.

C.B.S.

 

   

 

 

TRISTE PRESSENTIMENTO

 

 

Que lágrimas amargas já bebi,

E me rolam na face a cada instante,

Desde aquela manhã, ao pé de ti,

E me contaste sonhos, radiante!

 

Ias para Coimbra confiante

No médico compor o braço ali.

Enganaram-te rosa cativante,

Porque o teu olhar jamais sorri.

 

Na vésp’ra tinhas vindo ver a avó,

Coma Célia, o teu Litos e não só,

Mas eu notei em ti melancolia.

 

E volvi: Porque estás triste Gracita?

Logo que me respondeste, em voz bonita:

- Está chegando o tempo, minha tia…

C.B.S.

 

  

 

CASA PEQUENINA

 

Quantas vezes seponho te ouvir

Naquela belo timbre chamar: - tia,

E em nossa escada, à pressa, o teu subir

Que me dá uma súbita alegria.

 

Depoisd, vem de repente a nostalgia,

E o coração parece me partir…

Ao meditar na louca fantasia

E no sofrer atroz que te fez ir.

  

Ai, tempo que passou e já não volta,

Mesmo vivendo em sombras de ansiedade,

Onde a minha ventura andou à solta!

 

Se o dia de hoje é cheio de tormentos,

Sucede que me faz sentir Saudade,

Tristezas que vivi noutros momentos.

 

C.B.S.