GRACITA FLOR DA SAUDADE / SONETOS - II
II PARTE
OS SONETOS, GRAÇA BELA,
QUE ESTA MINHA ALMA DITARAM
SÃO HOMENAGEM SINGELA
DE UNS OLHOS QUE TE CHORARAM
Com a mais profunda Saudade da tia e madrinha Clarisse
Bem - aventurados os que choram, porque eles serão consolados. S. Mateus - Cap. 54
ETERNA SAUDADE
...Tinhas a Graça em tudo, meu amor,
Na voz e na singela compostura.
A graça no teu nome encantador
E nesse meigo olhar, muita doçura!
A c´roa do martírio, jovem pura,
Já a levaste a Deus, Nosso Senhor,
Porque se vive em mundo de amargura,
Onde só há tristeza e desamor.
Quando te foste cheia de alegria
Para compor o braço, nesse dia,
Morreriam teus sonhos de donzela!
Por te não ver, perdi o gosto à vida,
E as saudades são tantas, minha qu'rida,
Que te mando beijinhos da janela!
Góis, 26-2-1984 – C.B.S.
ROSA BRANCA
Minha querida Graça, quem diria
Que ias para "Santa Filomena",
Confiante e jubilosa em alegria
Para compor o braço em triste pena.
Após o acto, nessa tarde amena,
O médico a mãe sossegaria;
Mas na sala viveu-se estranha cena,
Porque não cessa o mal da anestesia.
Foste mártir três meses. Que tormento!
Num Inverno de chuvas e de vento,
Em que lágrimas trágicas vertemos.
Que Deus nos dê conforto e a ti o Céu
E faça ver bem claro, o que te deu...
Com esta rosa branca que perdemos.
4 /3/1985 - C.B.S.
GRACITA: O SOL DO NOSSO LAR
- Desde oito de Novembro que não sei
O que é sentir a paz no coração.
Em oito de Fevereiro te beijei,
No mais sentido Adeus e provação!
Morrer é para todos uma lei,
Mas se algo falhou na operação,
E nos tirou um Anjo que estimei,
Como se pode ter conformação?!
Vinte e três anos belos e risonhos,
Em que ruiram tão cândidos sonhos,
E se foram em voos de andorinha!
Gracita, eras o sol do nosso lar,
Se na Terra deixaste de brilhar,
No Céu, agora, há mais uma santinha!
8/03/1985 - C.B.S.
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ÚLTIMO ADEUS
-Jamais posso olvidar a despedida
Que nesse dia cinco nos fizeste
Tão cheia de esperanças e de vida
E o derradeiro beijo que me deste.
Confiaste na ciência, minha qu'rida,
E no ortopedista que escolheste
Para compor o braço nesse dia,
Em que os mais puros sonhos desfizeste!
Se bem que muitas preces e novenas,
Deus preferiu levar-te para os Céus,
Que ficares por cá em vivas penas.
Vinte e três anos só! Nos olhos meus
Há um pranto de Santas Madalenas
A lembrar sempre o último Adeus!
Março de 1985 - C.B.S.
Nota: Não foi este o último Adeus! Na madrugada de 30 de Maio estava orando e adormeci, por um instante. Recebi, então, dois ternos beijos teus. Que sonho maravilhoso veio até mim por vontade divina.
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O TEU RETRATO
- Todos os dias minha Graça qu'rida,
O teu retrato gosto de beijar:
Aquele onde estás triste e parecida,
E me deste uma vez para guardar.
Olho p'ra ele e fico a meditar:
Bébé um dia, agora mais crescida,
Rodeada de carinhos no teu lar,
Porque foi para ti tão curta a vida?
Se dos médicos fosses filha amada,
Haveria mais zelo e atenção,
Nem era uma família desolada!
Assim, "simples" que foi a operação,
Fizeram dela, certo, uma jogada...
Tal como a Lucindinha lá de Olhão.
OS OLHOS MEUS
- Gracita, meu amor, minha esperança!
quisera ter mais olhos p'ra chorar,
Se neles vive a mais doce lembrança,
E jamais servem para te mirar!
Se às vezes faço o meu pranto estancar,
E a lágrima no rosto me não dança,
É para avó eu não martirizar
Na sua vista que lhe dói e cansa.
Meus olhos que brilharam de alegria
Ao verem sempre a luz do Céu nos teus,
Hoje ardem-me de dor e nostalgia.
Assim, penosos estes olhos meus,
Não mais reflectirão um claro dia,
Enquanto te não ver junto de Deus!
18 C.B.S.
ALGUÉM BATEU: ERA A DESGRAÇA
Em sete de Novembro, alguém bateu
De rijo à nossa porta. Era a desgraça!
O Céu estava lindo, escureceu...
E uma nuvem escura nos abraça...
Essa intervenção "simples" decorreu,
E deixa em se mi coma a nossa Graça.
Recorremos a Deus, no alto céu,
Mas o mal implacável, não lhe passa.
Com noventa e três dias a sofrer,
Sem nos poder falar e até ver,
Chamavam-lhe a "Santinha" lá em Celas.
O Senhor dia 8 de Fevereiro,
Mandou um Anjo seu, de jardineiro,
Colher para si rosa das mais belas.
C.B.S.
19
ATÉ AS PEDRAS CHORARAM
Góis inteiro chorou sentidamente
E também as pedrinhas da calçada,
Por onde ela passava sorridente,
Deixando toda a rua perfumada...
Da Vila ao Pé Salgado, pela estrada,
Deslizava qual luz resplandecente,
Magnética, afectiva e enlevada,
Logo ao romper do dia e ao sol poente.
Lastimam-se as pedrinhas a dizer:
Que é feito duma estrela que passava
Em refulgente imagem de mulher?
- Gracinha está no Céu, aonde encanta;
Quando ela para vós já declinava
O seu olhar tão meigo, era de santa!
C.B.S.
A MINHA VIDA POR TI
Há já sessenta dias que partiste
Dum mundo de ilusão e dor pungente!
Deixaste-nos, Gracita, muito triste
E a chorar, por ti, saudosamente.
Naquele dia que te despediste
De mim, da avó, da prima, tão contente!
Quem pensaria, flor, que nos fugiste
E não voltavas mais a ver a gente!
Quando te soube mal, eu ofereci
De olhos no Céu a vida, então, por ti,
Mas Deus não aceitou proposta
Ninguém sabe os desígnios do Senhor,
Mas, se te preferiu,,oh meu Amor,
É porque chama antes quem mais gosta
CARTA PARA TI
Gracita! Meu Amor! Minha andorinha!!
A virtude que sempre cultivaste
Ficou perpetuada, oh, pomba minha,
No coração de todos que estimaste!
Na hora em que te escrevo esta cartinha,
Omporta-me saber, se bem chegaste
À morada Celeste, tão novinha
Com o vesrido branco que levaste!
Segundo o Evangelho, estarás bem
E os Anjos deram vivas no além,
Com cânticos de alegre saudação!
Alma gentil, espelhp de água pura,
Recebe um beijo cheio de ternura
E pede para nós resignação.
C.B.S.
TRISTE PRESSENTIMENTO
Que lágrimas amargas já bebi,
E me rolam na face a cada instante,
Desde aquela manhã, ao pé de ti,
E me contaste sonhos, radiante!
Ias para Coimbra confiante
No médico compor o braço ali.
Enganaram-te rosa cativante,
Porque o teu olhar jamais sorri.
Na vésp’ra tinhas vindo ver a avó,
Coma Célia, o teu Litos e não só,
Mas eu notei em ti melancolia.
E volvi: Porque estás triste Gracita?
Logo que me respondeste, em voz bonita:
- Está chegando o tempo, minha tia…
C.B.S.
CASA PEQUENINA
Quantas vezes seponho te ouvir
Naquela belo timbre chamar: - tia,
E em nossa escada, à pressa, o teu subir
Que me dá uma súbita alegria.
Depoisd, vem de repente a nostalgia,
E o coração parece me partir…
Ao meditar na louca fantasia
E no sofrer atroz que te fez ir.
Ai, tempo que passou e já não volta,
Mesmo vivendo em sombras de ansiedade,
Onde a minha ventura andou à solta!
Se o dia de hoje é cheio de tormentos,
Sucede que me faz sentir Saudade,
Tristezas que vivi noutros momentos.
C.B.S.